Eu estava bem engando quando achei que se organizar e conseguir focar durante as tarefas eram o filé mignon da produtividade. Foi aí que eu descobri que poderia melhorar MUITO mudando uma simples coisa: a ordem das tarefas.
Mas calma, você precisa entender o contexto.
O QUE ACONTECEU: eu sempre fui aficionado por produtividade e sempre testei muitas coisas para chegar a um ponto interessante. A última atualização que eu fiz foi separar meu dia por pilares* e colocar listas de tarefas dentro de cada pilar. Paralelo a isso, eu distribuía esses “pilares” em horários pré definidos no dia, levando em conta apenas a hora que eu achava mais confortável no dia.
Eu achava que a distribuição de horário não era tão importante (ou, se fosse, era algo fora dos 80% essenciais – organização, definição e tempo definido)
*os pilares são: (i) inglês, (ii) saúde, (iii) projetos paralelos, (iv) coisas pessoais, (v) estudo e (vi) trabalho
Bom, até que vi algo em um livro que me chamou a atenção.
DEEP X SOFT WORK: ao ler o livro “A única coisa”, o autor falou sobre dois tipos de tempo:
- O tempo do “executor”: um tempo de foco profundo, para executar tarefas que requerem atenção dedicada*: fazer análises, escrever códigos, leitura de cenários, tomada de decisão planejada, etc.
- O tempo do “gerente”: esse tipo de tempo é focado à supervisão, coordenação e gerenciamento de tarefas e pessoas. Aqui, a atenção é mais fragmentada, porque envolve reuniões, conversas assíncronas, follow ups, etc.
*São as tarefas que o autor de “Rápido e Devagar”, Daniel Kahneman, chamaria de atividades do Sistema 2.
Essas definições me mostraram algo importante: se eu mesclar tarefas de ambos os tempos de maneira repetitiva e intencional, minha produtividade poderia estar sendo massacrada.
Foi aí que eu lembrei de outro conceito que tinha lido: o estado de flow.
ESTADO DE FLOW: no processo de realizar uma tarefa, existem basicamente dois estados:
- Estado de luta: é quando nossa atenção ainda não está 100% focada na tarefa, e precisamos praticar muito o autocontrole para se manter nela. Basicamente, estamos realmente “brigando” para nos manter fazendo o que estamos fazendo. É um estado que, no geral, deveria abranger uns 20% do tempo da tarefa.
- Estado de flow: um estado mental em que uma pessoa está totalmente imersa em uma atividade, com foco extremo. É, basicamente, quando você “não percebe o tempo passar”. Deveria tomar 80% do tempo de uma tarefa.
Aqui, eu já tinha mapeado dois problemas na minha gestão de tempo/tarefas:
- Se para todo novo grupo de tarefas que eu começar, eu dedicar 20% do tempo para me manter naquela tarefa sem ser de fato produtivo, eu vou ter um problema aqui.
- Além disso, se eu não separar períodos para tarefas similares, essa mudança de tarefas constantes interfere mais ainda no fluxo geral da coisa.
E, aí veio a cajadada final que me fez ver que tinha algo errado: como o nosso cérebro age ao mudar de modelo de tarefas – o que embasa muito bem os conceitos eu eu trouxe acima.
A DIFICULDADE COGNITIVA DE MUDAR DE TAREFAS: lendo o livro “Rápido e Devagar”, já citado aqui, eu li o seguinte trecho:
“Uma das descobertas significativas dos psicólogos cognitivos em décadas recentes é que passar de uma tarefa para outra é trabalhoso, sobretudo sob a pressão do tempo”
Dito isso tudo, já ficam algumas lições aqui:
1. Multitarefa não existe (isso daqui eu nem falei porque é básico)
2. Definir períodos do dia para tipos de tarefa é um bom caminho (deep x soft work)
3. Trocar constantemente de tarefa te faz perder em média 20% do tempo a cada troca
4. É comprovado cientificamente que mudar de tarefas é trabalhoso e consome muita energia cognitiva
Com base nessas questões, eu entendi que a melhor forma de alocar suas tarefas é através de blocos de tempo.
BLOCOS DE TEMPO: ao invés de colocar tempo para tarefas específicas na distribuição da organização de um dia, o melhor caminho seria separar blocos de tempo para tarefas similares, onde os blocos são distribuídos por períodos maiores, que são “drivados” pela quebra entre deep e soft work.
- Defina momentos do dia de acordo com seu contexto: um tempo para tarefas focadas (deep work) e outro para reuniões, conversas e similares (soft work) – eu uso a manhã para deep work e a tarde para soft work
- Dentro de cada momento, defina blocos de tempo: os blocos de tempo contabilizarão tarefas similares dentro da categorização anterior (deep ou soft). A ideia é tentar finalizar tudo dentro de cada bloco sem quebrar tanto as tarefas
Um outro ponto interessante é colocar tudo isso numa agenda. Eu uso o Google Calendar e me atende bem.
Apêndice
LIVROS CITADOS
- A única coisa – Gary W. Keller, Jay Papasan
- Flow – Mihaly Csikszentmihalyi
- Rápido e devagar – Daniel Kahneman