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Startup enxuta: escrito em 2011 e mais atual do que nunca

Mesmo mais de 10 anos depois do lançamento, Startup Enxuta continua sendo um dos melhores livros sobre empreendedorismo e inovação que existem. Seus conceitos e frameworks continuam sendo aplicáveis até hoje.

O propósito de um livro com mais de 10 anos de idade

APRENDIZAGEM x GRANDES LANÇAMENTOS: o livro foi criado em uma era onde as empresas faziam grandes lançamentos a partir de longos planejamentos, criando um cenário onde o resultado real só seria visto muito tempo depois da concepção da ideia. Além disso, existia também uma ideia onde quanto mais funcionalidades o produto tinha, mais estrondoso o planejamento seria.

O livro surge para quebrar esse paradigma a partir de várias provocações:

  1. Troque tempo de preparação e métricas de vaidade por aprendizagem validada
  2. Tenha hipóteses claras do problema que seu produto vai resolver e como ele vai crescer
  3. Coloque seu produto no mundo o mais rápido possível
  4. Obtenha feedbacks rápidos e constantes para melhorar através de iterações
  5. Escolha as métricas certas e tome decisões com base nelas
  6. Mude de direção, se necessário, sem se apegar
  7. Tenha um motor de crescimento (mas não deixe de explorar outros)
  8. Adapte-se constantemente (o mundo muda muito rápido)
  9. O maior desperdício que existe é o de tempo

Além dessas provocações, o livro traz muitos conceitos e exemplos super interessantes a partir de 3 grandes partes:

  1. Visão: a base de tudo, onde você irá direcionar a estratégia e o produto
  2. Direção: validação e aprendizado (estratégia e produto)
  3. Aceleração: manutenção da inovação e resolução de problemas

Vou trazer os principais conceitos de cada parte a seguir.

Visão

A visão é a base de tudo, ela contempla a dor que você percebeu no cliente e qual sua proposta geral para resolvê-la. É a partir dela que você criará uma estratégia e a partir dessa estratégia, surgirão os produtos.

VISÃO-ESTRATÉGIA-PRODUTO: basicamente, esse framework fala sobre o processo de mudança e otimização referente a cada etapa.

  1. Visão: não deve mudar (se mudar, é algo raro)
  2. Estratégia: pode mudar (através de pivôs)
  3. Produto: deve sempre ser otimizado

APRENDIZAGEM VALIDADA: esqueça métricas de consumo do produto como motor para evolução, você deve focar em aprender — e não falo naquela aprendizagem fajuta —, são aprendizagens que geram planos de ação concretos e que moverão as métricas essenciais do negócio. O objetivo é em trilhar um caminho onde o aprendizado virá mais rápido e iterar constantemente para ir melhorando sempre.

EXPERIMENTAÇÃO: a maioria das coisas que devem ser feitas para validar uma estratégia e otimizar um produto devem ser realizadas através de experimentos (similar ao famoso método cientifico). Isso deve ser aplicado em testes dentro do próprio produto e para validar coisas que precisam ser mudadas e otimizadas.

Um experimento possui as seguintes fases:

  1. Hipótese: quais são minhas hipóteses claras e objetivas?
  2. Previsões: quais são os resultados esperados?
  3. Teste: o que pode-se fazer para testar a hipótese e validar as previsões?
  4. Resultados: como posso coletar os resultados de forma confiável?
  5. Aprendizado: o que os resultados podem nos ensinar?
  6. Plano de ação: o que os aprendizados geram de planos de ação concretos?

Direção

Agora que você tem as ferramentas para criar uma visão consolidada e sabe no que deve focar (aprendizagem), agora chegou a hora de colocar a mão na massa de forma. Existe uma forma de colocar a mão na massa de maneira estratégica e rápida, através do ciclo construir-medir-aprender:

  1. Construir: coloque o produto — ou experimento — no mundo (MVP)
  2. Medir: veja como ele está se saindo através de boas métricas
  3. Aprender: tire conclusões plausíveis e faça um plano de ação concreto

Repita o ciclo de forma constante. Quanto mais rápido conseguir realizar o ciclo, mais rápido vai conseguir obter a aprendizagem validada e chegar ao seu objetivo.

Construir

Esqueça planejamentos e desenvolvimentos lentos e onerosos, você precisa ter 2 hipóteses base e construir o produto mínimo viável para validar essas hipóteses.

AS 2 HIPÓTESES: antes de tomar qualquer atitude referente ao ciclo, você precisa concretizar a visão que você desenvolveu previamente:

  1. Visão: ter claramente o problema que seu negócio vai resolver e uma visão geral de como ele será resolvido.
  2. Hipótese de valor: como o seu produto vai gerar valor para o potencial cliente resolvendo esse problema
  3. Hipótese de crescimento: o sustento de um negócio é pautado no crescimento do produto. Como o seu produto irá crescer?

MVP: a sigla significa Minimum Viable Product (produto mínimo viável) e significa basicamente a versão mais simples possível do seu produto que você consiga fornecer para os primeiros clientes com a possibilidade de resolver o problema inicialmente. A ideia é construir o trajeto mais rápido para rodar o ciclo construir-medir-aprender com o mínimo de esforço.

A lição do MVP é: qualquer trabalho que não seja essencial para dar partida na aprendizagem é um desperdício, por mais importante que possa parecer a princípio.

Medir

CONTABILIDADE PARA INOVAÇÃO: esse método olha para otimizações através de uma visão quantitativa, onde cada melhoria que você faz no produto não deve ser apenas uma ação realizada, como também deve ter reflexo em métricas essenciais do negócio. Essas métricas devem ser acompanhadas constantemente e decisões (muitas vezes difíceis) devem ser tomadas a partir delas.

  1. Estabelecer o patamar: use um MVP para obter informações reais e úteis sobre a situação da empresa.
  2. Calibrar o motor: através de iterações constantes, otimize o produto colhendo feedbacks dos clientes e usuários, indo em direção a um caminho que entregue o que o cliente realmente busca.
  3. Pivotar ou perseverar: se as métricas irem evoluindo em cada iteração, deve-se prosseguir. Se não, deve-se pivotar a estratégia (a estratégia pode mudar para se alcançar a mesma visão)

OS 3 As DAS MÉTRICAS: eu falei várias vezes sobre “métricas essenciais” aqui. Mas ideia é que essa métricas reflitam o máximo possível a visão dos clientes em relação ao produto. Existem 3 características indispensáveis para boas métricas:

  • Acionável: as métricas devem refletir ações reais dentro do produto. Causa e efeito.
  • Acessível: elas devem estar em um ambiente “limpo”, onde entender os resultados de forma objetiva não seja um desafio. Já escrevi um artigo sobre isso.
  • Auditável: os dados precisam ser confiáveis e coerentes. Não adianta ter muitos dados com pouca confiança.

Aprender

Agora que você sabe a importância das métricas, você pode aprender com elas.

PIVOTAR (OU PERSEVERAR): esse é um dos momentos mais difíceis de um negócio, que é quando você não evolui e precisa tomar a decisão se você vai se manter com a estratégia atual ou vai mudar a estratégia para alcançar sua visão.

A verdadeira pista de decolagem (de uma startup) é o número de pivôs restantes: quantas oportunidades a startup tem para fazer uma mudança fundamental em sua estratégia de negócios. Medir a pista com a lente dos pivôs, e não com a do tempo, sugere outro modo de estender essa pista: chegando mais rápido a cada pivô.

Aceleração

Você validou sua hipótese de valor, precisa entender os fundamentos da outra hipótese: a de crescimento.

LOTES PEQUENOS: o trabalho em lotes grandes ocorre quando — para desenvolver um produto — você cria uma linha de produção onde cada etapa realiza uma tarefa simples e você consegue ser mais produtivo: mais produtos serão produzidos em menos tempo.

Mas tem um problema: se o produto estiver em processo de validação, trabalhar com lotes grandes é perigoso. Imagine se o produto não conseguir ser construído da maneira que você determinou: você só vai descobrir quando chegar na etapa problemática.

É para isso, que para acelerar o aprendizado, você deve operar em lotes pequenos: simplificar o desenvolvimento de forma que você consiga mapear os principais problemas do processo da forma mais rápida possível.

Lembre-se: a aprendizagem é mais importante do que qualquer coisa no ciclo de desenvolvimento de um produto.

MOTORES DE CRESCIMENTO: existem alguns modos de crescimento que podem ser adequados para modelos enxutos de negócios:

  • Recorrente: foco em recompra e retenção. Basicamente, o produto cresce com as pessoas utilizando ele constantemente. Alguns exemplos gerais: assinaturas e produtos que exigem recompra (até comida entra aqui).
  • Viral: é quando um cliente gera novos clientes, gerando crescimento exponencial. É aquele produto que é tão bom que você quer que as pessoas próximas de você também use.
  • Pago: é um dos modelos de crescimento mais comuns atualmente, é quando você paga por novos usuários. Google e Meta Ads fornecem boas formas de usar esse motor. É necessário ter um cuidado aqui: você deve pagar menos no cliente do que a receita que ele gera pra você.

O ciclo nunca acaba

INOVAÇÃO CONSTANTE: cedo ou tarde, todo negócio acaba ficando obsoleto. Para evitar isso, é interessante se manter inovando e testando coisas novas. Um ótimo framework para fazer isso é o 70-20-10:

  • 70% do tempo: se mantenha focado no produto core, aquele que faz a empresa se sustentar
  • 20% do tempo: aplique tecnologias e modelos emergentes, que outros negócios estão usando e estão conseguindo bons resultados
  • 10% do tempo: busque inovação agressiva, tentando olhar para onde nenhum dos seus concorrentes está olhando

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